Quando a última caixa saiu pela porta, e vi o apartamento vazio, eu chorei.
– Você quer desistir? Ainda dá tempo.
– Não, não quero.
– O que foi, então? Por que você está chorando?
– Não sei… Mas é como se o chão tivesse sido tirado debaixo dos meus pés.
Desistir? Nunca. Afinal, não seria desistir de algo que se conhece, mas desistir de entrar por uma porta sem saber o que encontrar do outro lado. Dessas coisas não se desiste. Nunca.
Pouco me lembro do que se passou na duas semanas que antecederam nossa mudança para a Coréia. São flashes da loucura do empacotamento dos dois apartamentos, a correria para comprar o que estava faltando, idas ao cabelereiro, casa de um, casa de outro. A cada dia do final countdown, aquela sensação de dormência aumentava. Hoje sei que era o corpo reagindo ao turbilhão de emoções e sensações. Ainda bem. O Homem lá em cima sabe das coisas…
Pizza com gosto de adeus. Não, adeus é muito forte, a gente não gosta. Pizza com gosto de tchau, até mais. É, soa melhor. Mas o gosto ainda era de adeus. Mas gosto bom. Não dava para entender, até hoje a sensação é quase impossível de virar palavras.
O adeus. Difícil descrever. Nem me lembro muito, prá falar a verdade. Ainda bem, recebi o privilégio de ter um cérebro que bloqueia grande parte dos momentos estressantes da minha vida. Bom para o estômago, bom para o perdão, bom para a alma. Assim gasto minha energia com o que realmente importa. Assim sou mais feliz.
Horas antes do embarque, a última visita ao cabelereiro, a última volta no shopping, o último cheque emitido, o último telefonema aos amigos, o último beijo e abraço nos pais. Às 4 da tarde do dia 22 de abril de 2006, entrávamos no taxi que nos levaria ao Aeroporto de Cumbica. Apesar do tom melancólico e saudosista do momento, a corpo e a mente só queriam que tudo começasse logo. Aquilo era a minha droga, a minha adrenalina. O novo, o novo, o novo!
Entrar naquele avião era somente o primeiro passo para atrevessar a tal porta. Era a única forma de descobrir se era a porta certa ou não.
Estávamos a 36 horas do início. De tudo. Do que somos agora e do que seremos amanhã.
Selma,
Estavamos com saudades dos teus posts .
Ao ler o seu último post, me lembrei de algo em que sempre acreditei … Ter asas e saber usá-las não é pra qualquer um !
Algumas pessoas desenvolvem esta arte : de voar, ampliar os horizontes e viver mais intensamente, com novidades e descobertas, multiplicando conhecimentos, amizades… Não como espectadores, mas como protagonistas da própria vida.
Vocês são assim !
São caminhos sem volta, mas que tornam a vida especial !!!
Muito bom poder conhecer um pouco de tudo isto através de vocês !
Até
Ana
Oi Selma, sou Luiz, marido da Bianca, do Buraco da Fechadura…
Sou um leitor silencioso do seu Blog, e estava ansioso pelas “Cartas Coreanas”.
Interessante ver que o embaçamento mental que advém antes de uma mudança como essa que vocês passaram, é também o que passei eu (ou nós)… Não lembro bem de empacotar, dos jantares de despedida, do dizer adeus, pra falar a verdade, não lembro nem do taxi para Cumbica… mas lembro do carro alugado em Atlanta, das árvores na rua, do sotaque “Red Neck” da Georgia, e lembro do taxi em Madrid, to transito, do cheiro… a mente nublou o conhecido e se preparou para o novo… onde colocamos a tal das “Lentes”…
Hoje com as “Lentes” já incorporadas, começamos a (algumas vezes) pensar se realmente gostamos delas… mas isso já é outro papo.
Parabéns pelo Blog, e prometo ler as cartas que virão… mas provavelmente voltarei a ser mais um leitor silencioso… ou não. 🙂
A oportunidade de viver em outro país é impar. Viver em um outro país de cultura tão diferente pode ser ainda mais interessante.
Pena que a vida é tão curta e quando o aprendizado começa a ficar bom a vida acaba. Esses são nossos 2 maiores desafios, aproveitar o tempo e transmitir conhecimento aos nossos semelhantes.
좋은 주말을 보내십시오
Oi Ana! E’ isso o que eu quero e peco sempre: que eu seja sempre protagonista da minha vida, responsavel pelo doce e amargo dela. Obrigada por me acompanhar! Bjs!
Oi Luiz, que bom te-lo por aqui! E que bom poder receber um “reforco” daquilo que vivi, sabendo que aquilo nao era coisa da minha cachola destrambelhada! Ah, e mesmo se voce nao deixar recadinho, eu ja’ sei que voce passou por aqui! Bjs, na Bianca tambem! (estou em falta com ela, preciso passar la’ no Buraco…)
Oi Aguinaldo, obrigada pela visita! Sim, concordo com voce: a gente se da’ conta das verdades da vida quando ela esta’ proxima do fim. Estar sempre atento a tudo e a todos faz com que a gente antecipe um pouco esse “dar-se conta”. E’ o que eu tento, e sei que com isso minha frustracao no final da vida vai ser um pouquinho menor. Bjs!
Selma, obrigada pela sua coragem. A cada dia sinto mais força em encarar a vida me espelhando em você, lutadora, vencedora e muito amada por nós aqui em casa. Beijos . Saudades.
É como diz o subtítulo do seu blog: “Acreditar que só encontra o caminho quem se põe a caminhar…”.
Bjs,
Tati.
Começo de uma grande história. Uma grande aventura. Uma mudança desse tamanho, dessa distancia, tem o poder de mudar tudo, com certeza.
Marta, também amo vocês! Obrigada pela força, hoje e sempre! Bjs!
Oi Tati, e posso garantir que ainda muitas coisas só continuam porque temos que acreditar… Bjs!
Oi Picida, realmente muda. Tudo. Prá melhor! Bjs!
Oi Selma!
Assim que li esta carta eu chorei…
Eu admiro muito vocês pela coragem e ousadia, mas quando lembrei da despedida a chorona aqui despencou…
A gente torce muito por vocês, e sente muita saudades também!
Adoramos vocês!!!